“Ser ou não ser—eis a questão.” Esta frase, dita pelo príncipe Hamlet na famosa peça de Shakespeare com o mesmo nome, tornou-se ao longo dos tempos uma das frases mais citadas na sua versão em Inglês. Em tempo de pandemia, todavia, uma pergunta mais relevante parece ter surgido: “Postar ou não postar? Eis a questão!”
Tal pergunta torna-se ainda mais crucial quando vemos servos de Cristo correndo para as plataformas sociais a fim de debater uma questão que talvez seja a mais consequente da nossa geração, ou seja, como explicar os erros gritantes de líderes que estão reagindo à essa crise, quem sai incólume, quem não sobrevive, e, mais importante, o que fazer para reverter a maré contrária e ainda conseguir livrar o nosso povo desse vírus implacável.
Diante de uma comunidade global que não se cansa de clicar, cristãos, como um time de futebol mal treinado, se embolam no meio de campo, provocam os adversários, xingam o juiz, e, no desespero, partem para a violência contra jogadores de sua própria equipe. Alguns espalham notícias falsas contra o outro time, outros, já semi-robotizados, simplesmente espalham slogans sem ao menos checar o que eles significam. Enquanto isso, pessoas sem Cristo continuam sem resposta às questões mais perplexas que afetam suas almas. E assim parece não haver esperança vindo dos espaços midiáticos dos cristãos.
Diante desse quadro, eu resolvi criar um pequeno recurso mnemônico com o intuito de ajudar a responder à pergunta sobre postar ou não postar. Sugiro que, ao deparar-se com essa questão, o cristão faça as seguintes perguntas:
1. É P-ositivo?
2. É O-bjetivo ?
3. É S-olidamente bíblico?
4. E T-estifica de Cristo?
5. É A-propriado?
6. É R-eal?
Consideremos agora cada uma dessas perguntas separadamente:
1. É P-ositivo?
O mundo, sem dúvida, está repleto de pessoas negativas. Frequentadores assíduos da mídia social normalmente estão à procura de algo que momentaneamente os eleve além da monotonia sufocante do dia-a-dia. No entanto, muitas vezes eles só encontram uma dose maior de drama, negatividade e discussões pueris.
Mas não deveria ser assim com o seguidor de Cristo. O apóstolo Paulo ensina que de tudo o que existe apenas três coisas permanecem, ou seja, fé, esperança e amor (1 Coríntios 13.13). Note, nenhuma delas conota qualquer tipo de negatividade. Fé requer uma convicção positiva que vira certeza. Esperança reflete uma visão promissora e inabalável quanto ao futuro, e o amor, a maior das virtudes, para ser amor verdadeiro, não pode ser sobrecarregado de tons destoantes de negatividade. Uma pessoa que busca passar fé, esperança e amor através de sua participação na mídia social não irá perder seu tempo com postagens negativas.
2. É O-bjetivo ?
Em poucas palavras isso significa: “conheças suas fontes”. Resista à tentação de compartilhar sem antes verificar. Nesse caso, é muito mais importante saber de onde vem do que para onde vai. Vale retificar antes de ratificar e passar no crivo antes de jogar na rede. Além disso, não se deixe enganar por manchetes sensacionalistas, truques de lógica ou grau de confiabilidade de amigos virtuais. Seus melhores amigos também podem ser os piores propagadores de opiniões que são despojadas de qualquer objetividade. Se esquecer de tudo o que eu disse acima, obedeça à sabedoria do adágio que diz: “Está bom demais pra ser verdade”. Já vai ser um bom começo.
É importante que não só você seja capaz de verificar a objetividade e confiabilidade do que você está prestes a postar, seus leitores também devem ter a oportunidade de fazer o mesmo. Portanto, facilite as coisas pra eles deixando de postar qualquer coisa que os levem a um beco sem saída.
Por exemplo, recentemente eu li uma postagem na página do Facebook de um amigo. O texto dizia: “Se você tomou vacina contra a flu nos últimos dez anos, irá testar positivo para o COVID-19”. Ora, eu estava 100% seguro de que isso não era verdade no meu caso. Como o texto era “assinado” por um “doutor”, eu fui procurá-lo no Google. Inicialmente, não o encontrei, mas depois de muito fuçar descobri que o sujeito é um nome importante no movimento anti-vacinação nos E.U.A, o que explica a postagem, mas ao mesmo tempo o desqualifica completamente para falar sobre o assunto com objetividade. Resultado: retirei a postagem da minha página.
3. É S-olidamente bíblico?
Entenda que aqui não estou me referindo a transformar o seu espaço na mídia em uma espécie de púlpito ambulante virtual. Estou mais interessado em falar do controle da língua, que é um tema constante na Bíblia. Por exemplo, somos admoestados a aprender a controlar a língua. De fato, o apóstolo Tiago até fala de “domar a língua” (Tiago 4.1-12). Deduz-se, então, que aquele uso desenfreado da língua não deveria fazer parte das interações de cristãos, quer sejam elas em pessoa ou virtualmente.
Há muitas pessoas que se descontrolam quando debatem nas redes sociais. Assim, elas acabam escrevendo ou compartilhando mensagens que servem apenas para denegrir a imagem de uma outra pessoa ou grupo. Alguns usam palavras de baixo calão ou jargões vulgares que atacam pessoas que são diferentes delas. Cristãos precisam evitar o uso dessas palavras. Às vezes eu penso que muitos cristãos na mídia social estão mais interessados em humilhar os seus oponentes do que em não entristecer o Espírito de Deus. Afinal, o uso de palavras torpes, como diz Paulo, é uma das maneiras seguras de deixar o Espírito triste (Efésios 4.29-30). O que alegra o Espírito são palavras plenas de graça, diz Paulo. Portanto, alegre o Espírito, não poste nada que não venha a ser benéfico pra alguém.
4. T-estifica de Cristo?
Não vou tentar amenizar esse problema. Muitos Cristãos na mídia social parecem estar mais engajados na causa politica ou social do que na causa de Cristo. Isso pra mim é um problema de uma magnitude gigantesca.
Recentemente eu tive que confrontar um amigo sobre esse assunto. Sem rodeios, perguntei: “O que você acha que as pessoas que frequentam sua página no Facebook pensam—que você tem mais paixão por Bolsonaro ou por Jesus?” Vindo assim de supetão, a pergunta o deixou meio sem jeito.
O comportamento desse amigo, por quem eu nutro admiração, é mais uma evidência da convicção que eu tenho de que se cristãos utilizassem a mesma paixão, tempo, energia e criatividade para com Cristo que eles demonstram para com causas político-sociais, ou até mesmo por esportes, já teríamos chegado muito mais longe na tarefa de ganhar o mundo para Cristo.
Creio que para o cristão todas atividades na mídia social, incluindo postagens, deveriam deixar pistas, espécies de pegadas virtuais, que remetessem diretamente à pessoa de Cristo. Se isso não for absolutamente claro para aqueles que seguem você na mídia, então eu diria que você falhou no teste básico sobre qual é a maneira mais eficaz de atuar nesses meios. Portanto, não enterre seu talento na nuvem. A começar com a sua próxima postagem, faça como Paulo ensina quando ele diz que devemos “aproveitar cada oportunidade” (Efésios 5.16).
5. É A-propriado?
No contexto religioso, “apropriado” refere-se à uma liturgia que é específica para um certo feriado no calendário religioso. Em outras palavras, esse conceito tem a ver com algo que se adequa aquele momento, que não está fora de lugar, e que, como uma luva, encaixa-se perfeitamente na mão.
Plataformas sociais são espaços comunitários que estabelecem suas próprias regras. Ninguém é forçado a entrar, mas, em entrando, a expectativa é de que a pessoa irá obedecer às regras. Nesse contexto, “apropriado” é tudo aquilo que não foge à regra do jogo. Por sua própria definição, vale dizer, o termo exclue comportamento “guerrilheiro”. Ninguém é excluído de seguir as regras e espera-se que todos o façam para o bem do grupo como um todo. Vejam que até o presidente dos E.U.A. foi recentemente repreendido pelo Twitter por postar algo desprovido de qualquer tipo de sustentação.
O uso arcaico da palavra “apropriado” tem a ver com algo que é “virtuoso” ou “respeitável”. Tais conceitos chegam bem perto do que Paulo quis dizer em Filipenses 4.8, quando ele instou os cristãos a pensarem em coisas que são “nobres” ou “louváveis”.
Mas alguém ainda poderia perguntar: Como saber se algo é “apropriado” para postar ou não? Primeiro, diante da possibilidade de seus filhos verem o que você postou, qual seria a sua reação? Vergonha? Decepção? Se sim, não poste. Segundo, se o assunto é algo que seria mais apropriado tratar em uma conversa face-a-face, não poste. Facebook não é um lugar para postar desaforos sem nome e Twitter não foi feito pra “torrar” ninguém.
Há muita gente aí passando lição de moral ou jogando impropérios contra outros simplesmente porque o podem fazer por detrás de uma tela. Isso é um comportamento muito feio por parte de um cristão, sem contar com o fato de que quem não tem coragem de dizer algo pessoalmente, mas daí por aí esborrifando as mesmas coisas pelo mundo seguro de uma rede social está agindo como um mau-caráter. Plataformas de mídia, lembre-se, não foram criadas pra serem um experimento em atos de covardia.
6. É R-eal?
“Real” tem a ver com aquilo que corresponde à realidade, ou seja, é verdadeiro. Se você não tem certeza que algo é verdadeiro, não ponha nas suas redes sociais, não importa quão convincente o assunto pareça.
“Real” também pode se referir a um artigo que é “genuíno”. Quem lida com dinheiro falso sabe muito bem que a razão pela qual ainda há um mercado para essa atividade criminosa é que os falsificadores são bastante astutos ao ponto de fazerem imitações quase perfeitas das notas legais. Eles não cometem erros óbvios nem esquecem os pequeníssimos detalhes. A olho nu, toda nota parece genuína. São necessários olhos de especialistas para distinguir o falso do verdadeiro.
E cristãos que se interessam por não espalhar falsidades nas redes sociais necessitam aprender a ser esse tipo de especialistas. Temos que nos esforçar para ser verdadeiros caçadores de mentiras, a começar pelas já famosas “fake news”, uma expressão que agora tornou-se popular. Não se deixe iludir: “Fake news” significa “notícias falsas”. E elas só cresceram em popularidade justamente porque se parecem assustadoramente com o artigo original. Seja implacável, aprenda a distinguir a verdade do erro e elimine o erro sem medo de errar. Não é tão difícil assim, basta um pouco de esforço.
A Bíblia diz que Jesus é a verdade (João 14.16). Em outras palavras, Ele é a essência da realidade, a entidade verdadeira original. E quem passa informação inverossímil sem qualquer cuidado em checar pode estar fazendo tudo mas não está exibindo o caráter de Cristo. Aliás, pode até ser que o hábito de “dar um like” em algo que não é verdadeiro reflita o caráter do “pai da mentira”. Pense: Ao fazer isso, você estará “curtindo” uma inverdade. É isso que você quer? Não estaria na hora de alinharmos definitivamente nossas postagens na mídia social à verdade de Cristo?
Resumindo então esta exposição, vale ressaltar que quer você utilize-se dessas perguntas para decidir se deve postar ou não, seria aconselhável lembrar-se de que a raiz do problema do comportamento esdrúxulo de alguns cristãos na mídia social, especialmente em tempos de pandemia, deve-se à mania que muitos cristãos têm de imitar os padrões do mundo nas relações humanas. Deveria ser o oposto, mas infelizmente o que se vê com muita frequência são cristãos que em vez de líderes são seguidores.
Note o contraste com 1 Pedro 3.15, um texto dirigido a cristãos que estavam sendo alvo de perseguição. O apóstolo ensina que quando fossem questionados sobre a razão pela qual eles ainda tinham esperança, os cristãos deveriam estar preparados para responder. Mas aí ele faz uma ressalva: A resposta deveria ser caracterizada por “mansidão e respeito”, não agressão e despeito, não importando se os indagadores eram os mesmos perseguidores.
E aí jaz o problema: O mundo vive à base da filosofia do “bate-pronto”, já o cristão, se quiser seguir a linha do seu Mestre, deve viver à base do “bate, pronto”. Quem disse que necessitamos viver em constante estado de beligerância, prontos a devolver instantaneamente com a mesma moeda? Está na hora de fazer jus ao nome de “discípulos de Cristo” e praticar o que Ele disse: “Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra” (Mateus 5.39). Assim, e assim somente, ganharemos o mundo para Cristo, virtualmente ou não.
Mbi ma ya ti tene so oko pépé … pardon ita mo fa na mbi na Sango wala Français
JIM HOCKING Founder, Fondateur c: 574.527.8920 I o: 574.635.1401 I skype: indianajim waterforgood.org
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Thanks, Jim. Love you, my friend. It’s the Portuguese version of my previous (English) post, only a little longer because the word “post” in Portuguese is “postar.”